domingo, 28 de janeiro de 2018

Qual a relação entre intestino e depressão?


Por Paulo Jubilut - Bayer Jovens
Camundongo tranquilo se comportava de modo mais
ativo, de acordo com a natureza das bactérias intestinais


E você sabe quem são essas bactérias? Conhecidas popularmente como flora intestinal, são populações de bactérias que vivem naturalmente em nosso intestino. Enquanto fornecemos a elas casa e comida, elas nos auxiliam no desenvolvimento do intestino, na proteção contra patógenos (microrganismos que provocam doenças), na síntese de vitaminas, absorção de nutrientes e digestão – relação conhecida como mutualismo. Elas ficam restritas ao intestino graças a uma parede impermeável de células que impede que escapem e caiam na corrente sanguínea.
Mas o papel dessas bactérias não está restrito ao intestino, vai além do que imaginávamos, podendo também influenciar nossa função cerebral. Como assim, Jubilut? Estudos têm mostrado que a relação entre o ser humano e sua microbiota - conjunto dos microrganismos que tem a função de defesa do organismo, além de auxiliar na absorção de nutrientes - é uma via de mão dupla, além de ser bastante complexa. Isto é, não é apenas a microbiota que pode afetar a pessoa, mas o inverso também. Isso porque ela é responsável pela produção de grande parte das substâncias neuroquímicas – como serotonina e dopamina – que o cérebro utiliza para regular alguns processos, como aprendizagem, memória e humor.
Há situações em que a membrana que protege o intestino fica danificada, permitindo que substâncias tóxicas e bactérias intestinais caiam na corrente sanguínea. E estudos apontam relações entre esse desequilíbrio e alterações no humor. Neste caso, ao analisarem amostras de sangue de pessoas com depressão, observaram que 35% delas apresentavam sinais de bactérias da flora fora do intestino, conhecido como intestino “mal vedado”.
Ainda não está clara a relação entre a “fuga” dessas bactérias de órgãos do sistema digestivo e o surgimento de sintomas depressivos. Uma hipótese é que o organismo detecta essas bactérias fora do local onde deveriam estar e desencadeia respostas autoimunes e inflamações, que são reconhecidamente fatores que afetam o humor e a disposição física e podem desencadear episódios de depressão.
Como muitas perguntas encontram-se sem resposta, várias pesquisas foram realizadas em camundongos, como modelos de estudo. Em umas dessas pesquisas, foi avaliado o efeito da destruição da flora bacteriana intestinal de camundongos adultos por meio da administração de antibióticos. Como resultado foram observadas mudanças significativas no comporta-mento de animais adultos: os roedores ficaram mais ansio¬sos e menos cuidadosos. A transformação foi acompanhada por aumento do fator neurotrófico (responsável por regular a sobrevivência dos neurônios) derivado do cérebro, associado à depressão e à ansiedade. Com a interrupção dos antibióticos obtinha-se o restabelecimento da flora intestinal e da química cerebral e os camundongos volta¬vam a apresentar comportamento normal.
Em outro momento da investigação, os cientistas inseriram bactérias provenientes do organismo de um animal de tempera¬mento enérgico no intestino de outro roedor de comporta¬mento pouco ousado. Curiosamente, foi constatado que o camundongo "tranquilo" passava a se comportar de maneira mais ativa. Demonstrando a influência das bactérias intestinais na química cerebral e, consequentemente, no comportamento.
Até então, já se sabia que as bactérias intestinais influenciavam no comportamento, mas as pesquisas sempre foram realizadas com camundongos saudáveis e normais. Daí surgiu à pergunta: Será que o estresse do dia-a-dia também poderia influenciar na composição da flora intestinal e consequentemente alterar o comportamento? A resposta é sim! Novos estudos sugerem que sintomas de ansiedade e depressão provocados pela exposição ao estresse no início da vida aparecem somente com a presença de microorganismos no intestino.
Avaliando camundongos que tinham sido expostos a uma experiência estressante no início da vida – eles foram separados de suas mães precocemente – apresentaram comportamentos semelhantes ao de pessoas ansiosas e deprimidas, além de disfunção intestinal e níveis anormais de hormônio do estresse na fase adulta. Já os camundongos livres destes microorganismos expostos ao mesmo tipo de estresse não apresentaram quaisquer sinais de ansiedade ou depressão mais tarde.
Os cientistas, então, transferiram as bactérias dos camundongos normais, não expostos à experiência traumatizante, para os animais livres de microorganismos. Em pouco tempo, eles passaram a apresentar os comportamentos depressivos e ansiosos.
Os resultados sugerem que tanto a composição das bactérias e fatores que interferem na vida da pessoa atuam em conjunto para o desenvolvimento da ansiedade e depressão. Ainda é preciso testar estas hipóteses dos estudos realizados em camundongos em seres humanos.
Então galera, enquanto não são realizados os testes em humanos, podemos evitar o aparecimento desses distúrbios entre outros problemas adotando uma dieta e hábitos mais saudáveis.